domingo, 21 de dezembro de 2008
Soneto do Esquecimento
A sorte da carne que já fôra gente
Agora adubo, esterco, semente
Todo orgulho e arrogância ferrenha
E no peito nem saudade ou tristeza
Aparece naquela tarde cinzenta
Onde a ditadura da frieza
Sufoca aquela dor cruenta
E nos lábios secos de cor parva
O silêncio apenas povoa e
Belas canções de vácuo entoam
Os que antes amores contentes cantavam
Hoje sem nenhum sopro de ressentimento
Apagam-se nos umbrais gélidos do esquecimento
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Eu
“Ao poeta augusto dos Anjos”
Eu, Eu, Eu
Transcendente e abjeto
Polífono, acústico e sintético
Eu perifrástico e ignoto
Roto, escroto
Eu transistor e mentecapto
Absinto, abstrato
Eu simplesmente eu
“Yo non tengo la plata”
Eu circunspecto, incircunciso
Real, aéreo, indeciso
Eu cerne do universo
Tutano do mundo
Tristereza, marimbundo
Agora e depois
I am ...
Mictorium
Latrinário
Vislumbrorium
Divisado
Eu ...
Transnordestino
Metropolitano
Brejeiro
Tranqüilo, paciente e arengueiro
Eu simplesmente
Nexo, entre o côncavo e o convexo
Entre o que calo
A porrada e o estalo
Sinto-me apenas sendo
Eu...
Passando ...
Escrevivendo ...
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Madrugadas
Tínhamos assuntos infindáveis
Noite a fora, copos de vinhos sobre as mesas
Ou apenas a friagem e o orvalho da noite
Somos irmãos de umbigo pelo universo
E de verso somos primos terceiros
Fora a distância, os pés cansados
Os bolsos sempre secando
e a saudade incansável,
Nossa amizade prevalece
As palavras reproduziam textos
Os textos sentimentos, atos e abraços
Com sabor de irmandade calorosa
Noite a fora íamos descontruindo a madrugada
Que torcíamos para que esta não se fosse
E agora como estamos?
Se o diálogo interrompido pela roda viva,
Pelos gametas, tradições de correntes e coleiras
Se processa, agora, apenas telepaticamente no infinito
Mas um dia quando a maturidade apontar
E nossas rugas escreverem a verdade aos nossos olhos
Veremos escritos no livro da eternidade
Que o que importa nesta vida
É o que menos se dá importância
Voltaremos, então, ao ciclo de transcendência mútua
Nutrida vorazmente pela reciprocidade de nosso verbo.
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
O beco
O universo ardiloso do teu ventre
Nesse abismo sedutor
dos teus braços.
Verde que te quero verde
De esperança nos olhos
E açucar no teu umbigo
Fui ao canto do beco
E lá estavas de cócoras
Apagando com urina
O submundo do desejo
Em chamas.
E eu com minha lingua ingênua
Me perdi no teu útero
Mas, no final dos tempos
Só restaram meus passos
Caminhando desnudos
E meus lábios mudos
Tremendo na gélida manhã
de domingo.
E nesse desencantamento todo
Eu vi um arco-íris no horizonte
Naquele instante pensei
Com minha sombra abobalhada
Que no fim da ponte multicolorida
Estava lá meu coração semi-devorado.
sábado, 2 de agosto de 2008
Desobediência Civil 2
Em que o frio te lambe os ossos
E teu coração mais parece
Um rio em silêncio.
Tu te sentas, olha pro chão de teu peito
E encontras ali uma pequena fogueira
Acendes, sopras, te cansas
Mas o fogo não tem ânimo pra desabrochar no mundo.
Olhas em volta e ninguém te conheces
Logo tu que a cada passo distribuías acenos
Agora é só você nesta estrada
Feita de chão e estrelas congeladas
Agora é só teu medo que vivia preso e agora fala mais alto
Neste exato momento é só você
De frente com a tua angústia eterna
É só este ser contido
Que se encolhe a cada segundo
Até tentar desaparecer por completo
Mas nem isso consegues,
Pois tua teimosia vai inflando, inflando
Lentamente nos anos que se arrastam
Pelas calçadas das ruas desconhecidas.
Até que um dia ela se torna insustentável
E explode em raios iluminados de força e sagacidade inexplicáveis
É exatamente neste dia
Que estarás realizando a missão iluminada
Da tua vida antes sem sentido.
sábado, 12 de julho de 2008
Manifesto Sopofágico
Vazia, escura e esculhambada
Urge de uma caldeira escandalosa
De textura venenosa e cítrica
A sopa podre feita de angústias
E vísceras humanas
Para diarréia cerebral
O laxante cósmico
Para que se evacue
Toda a estupidez
Da gente provinciana
Elogio ao cão sem dono.
Cintila o brilho da liberdade
Esculpida a chutes,
a pedradas e maledicências.
O cão sem dono,
Andarilho renitente,
Transgressor dos açougues,
A fome, a fome, a fome.
O cão sem dono uiva na frieza da noite,
Expluindo em angústias
No agouro da morte,
A felicidade de ser livre
E o dilema da liberdade.
Poema para matar a saudade
Mas um dia retorno cavalgando saudades
E volto com todo amor recheado de brilho
Esborrando o olhar de felicidade
E se me recebes com meus amigos sorrindo
Eu me transbordo de alegria
Se encurtam as noites e os dias
Com esse pensamento sempre surgindo
E eu de cá sempre erro o caminho
Que transcorro sem parar um momento
Mas recupero o movimento
E torno a te encontrar
Nos meus sonhos e desejos que disperto
Fico eu te reencontrando
Vivendo as horas mas não esquecendo
O que disse do meu retorno certo
Lua Partida ou Partida da Lua
Com sua energia negra sobre o teto da casa
Que desabava sobre os abismos abertos sobre o chão de medo
Mas que ela fosse embora
Mas não levasse consigo todo encanto da noite
Todos os meus versos debaixo do braço
E entranhados na sua pele
Minha palavra hoje muda
Meus cânticos de silêncio
Pernoitam agora sem ritmo
Sem o embalo dos teus seios de pedra
E das tuas coxas de labaredas
E que ela fosse embora
Mas não se irrompessem tempestades
Que inundassem de frio os meus braços destruídos
Hoje apenas passo e olho
Como se não fosse nada o que nada foi de fato
Com o olhar liso de parede ela me despe,
Me violenta e humilha num sorriso
Cravando com seus dentes de navalha
O pobre cerne de minha alma dilacerada.
Alçapão
Ferveram-se meus ossos e minha boca salivou desejos
Eis que me aproximo e percebo sua pobre alma ansiosa
Mistura de tempestades de angústias e trovões de medo
E não posso, não quero e nem minto
Que o que sinto só pode ser instinto
Apenas carne que se roçava em minha pele
Com sua cor de sol e um sabor de gilete
Eis que nem mais olho pra não furar minha íris
Em seus espinhos que escondes nas pétalas do seu rosto
E nem a toco mais no meu sono
Pois durmo agora de olhos ligados
Pra não me perder entre os seus descaminhos
E não me achar no seu ventre armado
Fetiche
Laço molhado no ouvido
Caminhada sedenta de meu nariz em tua pele
Esse desejo de amarrar teus braços
Nas estrelas.
Agradecido
Como quem diminui
Em tom magnético
O que é grande e belo
A atração impossível,
O segredo que aflora
Desejo, instinto.
A vontade inconfessa
Mas há a hora em noite de febre
De beijar o prato cuspido
Em língua de perdão
Nos lábios do morto gélido
Ressurreição do calor vermelho
Pulso do universo sincero.
Manifesto dos Sem Palco
São os sem sonhos, os sem luz,
Tal qual o cantor sem garganta,
O poeta sem tinteiro.
O palco é um banheiro
De onde se canaliza a limpeza diária
Da mente, do riso, da máscara cotidiana.
O sem-palco é o reflexo fiel
Da cultura capitalizada.
Onde o lucro rouba a audiência,
Onde a burrice é a inocência conservada
Mantendo a ignorância bem comportada.
Os sem palco são primos dos sem-gravadora
E primos terceiros dos sem-livro.
E, perambular todos na mesma BR do
Anonimato e lutam todos juntos
Apesar dos seu s orgulhos inatos
Os sem-palco no seu sonhar se esquece
De que palco não é só o que falta.
Mas, lembra que a arte é o ópio que
Não deixa a consciência na ribalta
Educando-se aprende a contentar-se
Com a realidade deturpada ou
A tentar converter a injustiça instalada.
Os sem-palco, mesmo com palco,
Não se esquecerá de cultivar todas as
Mentes férteis de todo de qualquer
Espaço físico.
Todos os sensíveis sabem que é
Urgentemente preciso uma
Reforma Palcária.
É a necessidade maior, a demanda lúdica
De todos os meros bobos da corte.
Dois Pontos
Que me invento
Tudo que de fato
Existe de intangível
O fogo úmido molhando
Os olhos secos da
Flor nascente
O colírio do incrível
O que crio
Roubo do firmamento
A cor a tingir
O sonho neutro
O mar do amor
No qual me afogo
Tecem, tocam
As mãos de vento
Há entre os dois pontos
Que me invento
A rima, a soma,
O rio, o riso
Guardados, amadurecendo
Há entre os dois pontos
Que me invento
Até o saber da lua e o poder dos ventos
A explosão da vida
E o silencio do silencio
Tudo isso há entre os dois pontos que me invento
A imagem de meu amor frustrado
A imagem de meu amor frustrado
É bola de fogo em céu de prata
É luz néon rasgando azul
Rubi de cera em noite escura.
Ela foge de mim
Como imã de imã
Em carga mesma
Entrando no meu peito
Feito bicho de pé
O que existe
É carvão de gelo
Poeira parada
Simplesmente
Nada com nada
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Tziu
Um negrinho astuto
Num desvario
Na beira do rio
Rasgando o silêncio
Com todo o seu cio
Numa manhã de domingo
A vida se abriu
Nos saltos e giros
do moleque tziu
Minha vida faz voltas
Coração a mil.
Se escuta de longe
Com a tarde caiu
A estagnação do limbo
Se escuta: Tziu!!!
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Paixão, como se usa?
Pedra de fogo riscando o céu
Carrossel de impulsos
E veredas desconhecidas
Às vezes, acelera meu peito
Inflamando com doçura
Cortando com a língua cruenta
Sua frágil textura de cor e dor
Às vezes congela meu ânimo
Picolé de chuchu
Tédio de domingo
E busco abrigo
Chorando ao luar
A paixão é assim
Nasce do nada
Quando vê estou na escada
E rolo até o fim
E me fodo e me flagelo
Atropelo a língua
Corto os pulsos, bebo água sanitária.
Pra alvejar a penumbra da rejeição.
É lasca, a paixão.
Às vezes gosto tanto
Que derretido em prantos
Engasgo-me com o doce sumo
Do fel que escorre da linda boca
Que diz “não” aos olhos secos
Arreganhados de paixão
A menina que virou palavras
De paranóia circulante
De circuito fechado
A verborragia elétrica
Sem nexo
A meia vida
De uma ninfeta esquizofrênica.
E se volatiliza na fala
A donzela antes muda
Um maremoto
De paixão reprimida
Em carne viva
Sua língua arde e cintila
Os ouvidos engatilhados
Dos olhares atraídos
Pela candura febril
A menina que virou palavras
Pronunciando em sintaxe de raios
Sua alma agora irrompia
Em três mil megatons de
Letras em choque.
Réquiem para uma cidade entre o caos e o desejo
Tropeçando pelos becos
Dos prostíbulos encharcados
Se descascando sob a chuva
De facas, fel e foices
No submundo dos excluídos
Em meio ao bombardeio da ganância
Contra mim latem os cachorros
Com quem disputo o meu almoço.
Entre mendigos, cheira-colas,
Prostitutas e bandidos,
Eu degusto o que nos sobra dos banquetes dos poderosos.
De onde vem o meu sorriso?
Da mais profunda ironia no enxergar dos absurdos.
Ai meu Recife, quantos medos e desejos de ti eu construí.
Entre a surpresa da altura imponente dos arranha-céus e
O sofrimento absurdo
Dos manguezais soterrados.
Meu sorriso vem da força pura da marginália em movimento.
Entre o desejo lancinante da utopia e a fria realidade.
Do meu sarcasmo de saber que as vitrines
São limites entre dois mundos.
O dos que querem
E o dos que podem.
Ai, ai Recife, picadeiro em chamas,
Ensaio um novo sorriso entre os escombros.
Lar
quinta-feira, 27 de março de 2008
Coragem
E me enfrento todos os dias no espelho
Olho nos meus olhos e escrevo
Na tela dos sonhos, os desejos.
E sem medo suporto as agruras
Da dor, do tempo e da saudade
Pois uso a arma mais potente
A centelha febril da verdade
Que escorre dos meus olhos
E no texto descobre o colorido
Forte das palavras, e te digo:
Com a lança do meu verso emperdenido
Já matei sete feras e um camelo
Perambulando a noite dos meus pesadelos.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Espera
Espero tua chegada ao meu mundo
Raio de orgulho partido
Olhar seco na neblina
Os segundos escorrem
Do firmamento
E minha garganta
Profere gritos silenciosos
E tu não chegas
Rezo, canto e praguejo
À paixão de areia que desmorona
Sobre minhas células ressentidas
Nunca mais ficarei ao relento
Suspirando a flor venenosa
Por três mil anos fui ferido
Com a lança doce do desejo
ARDIL
Aquecendo com o sangue o marasmo do tédio
Na noite insone e sem lua
Degustar
O desespero do vazio
Na certeza matemática
Da morte
E na efemeridade insignificante
Da vida
Quero ser poema
Sibilado no ouvido
Na hora do orgasmo
E do suplício de morte
Quero ser ágil
E com olhar ampliado
Senti a malícia salivando
Na boca sedenta das raposas
E ardilosamente
Planejar
O beijo assassino
Eu pirulito
De papel rosado
De um diário de menina
Com o coração zangado
A de ser pirulito de açúcar
Chupado, babado e fora jogado.
A de ser tapeado
Usado como virtual
Substituto
Para um namorico em crise.
Era de se imaginar
Aqueles beijos estalados
Que pareciam ensaiados
Aquele amasso dado em claro
(pra que todos vissem)
E eu bobo
Eu pirulito,
Indo no embalo.
Respondendo com beijo
O beijo dado,
Gostando, dançando
Abraçando empolgado
Já excitado.
Era cada beijo
Cada fungado
Eu pirulito
Chupado
Doce na essência
Coração melado
Também me exibindo
Também rebolado
Fingindo enganar
Quando enganado.
Hoje sem gosto,
Meio azedado,
Peito formigando,
Palito quebrado
Cônscio do uso
Sabendo-se usado.
Eu pirulito
Já descascado
A procurar outra boca
Que me queira lavado.
Súplica no morro
Como quem suplica e questiona
A dor de um menino que se menciona
Morreu de fome e chorando
Sua mãe solta um grito derramando
Toda angústia que aprisiona
Num eco vazio que não funciona
E o silêncio continua pairando
Mas há de um dia o universo
Convergir para um só processo
De igualdade e justiça de fato
Chega de leis sem cumprimento
Chega de lar sem alimento
E muita fartura em cada prato.
Setor de Frios
Perecível e vulnerável, brinquedo perdido
No meio da rua
Sem preço, destino incerto no fim da festa
Feira de signos e maldições prediletas
Fica abandonado como quem espera
O que não há de vir
Iludido com as falsas faíscas
Resvaladas por engano nos olhos empoeirados
Secos pelo açoite cruel das horas impiedosas
Seguindo sombras de gaivotas negras
Sobre a água do rio poluído
O tempo passa cantando
E com o sangue acidificado
Passa na garganta o desejo resfriado
Pronto pra nascer novamente entre a lama
De areia movediça e a lava de um vulcão extinto
Sem saber que ele mesmo
É o prego e o dedo
Que reclama distraído
A felicidade sonhada que não enxerga
Eu e Guarabira
Desenrolada na estrada sóbria do porvir,
Indicando nova vida pra viver
E ser assim como que por acaso.
A vida está aí na frente
Com tudo que ela tem direito,
Com o vento e com as montanhas que te afagam de longe
E repercute no peito o arrepio.
Guarabira me recebe com o seu sorriso
E deseja que eu me transforme no que sou,
No homem que me sonhei quando menino
A vida me sorriu e o que eu posso é alegrar-me
E a cada dia sorrir com o presente
Do olhar do sol no horizonte.
A cidade está aí de frente,
Esperando-me,
Pra que eu cresças e mereça o que é meu.
Pra que eu floresça entre as flores secas e talentosas.
E cante no verso de cada estrada
Minha alegria mais sincera e estrondosa.
E escreva nas nuvens poemas curtos
E longas estórias de amores impossíveis.
E me realize com graça e rebeldia,
E não pare nunca de crescer e querer ser.
Ter beleza, saúde, riqueza e cultura.
Tudo se encaminha
Na altura de onde eu queira estar
Basta deixar ela me beijar
E que o resto depois surge
É só deixar o bem entrar
E me faça contemplar na nova cidade que me corteja
Novas vitórias para celebrar.
Heróis de Papel
Sob folhas de papel e carimbos sem tinta
Meus heróis estão gordos e mofados
Escondendo entre os dentes
A palavra certa e o olhar aguçado
No aconchego do pão certo de cada dia
Na fala dissimulada do idioma rebuscado
Abrigam uma faísca do desejo de mudança
Como a semente que brotou no telhado
De onde virá a nova revolução
Se tudo parece já estar inventado
Se o capital impera e ordena o até fluxo
Dos desejos sinceros e do amor sonhado
Estão lá meus heróis
Com prisão de ventre e andar quebrado
Criando o que não queria
E o que queria, errado.
O sentido
E os agüento chorosos.
Enquanto a sombra mina
A cidade de brinquedo
Em ruínas de templos e templários
Em demolição .
Já não quero mais o mesmo tédio.
Desejo o impossível do meu cérebro,
Transponho medos e traumas
Espalhados nos telhados.
Revejo a mesma dor composta em silêncio
Como a inventora dos meus segredos.
Caminho em silêncio a cidade deserta,
Como se meus pés devorassem a tristeza.
E se o vento flagelasse meu rosto surpreso.
Esbarro nas portas dos lupanares fechados
Resto de copos e corpos pelo chão,
Cálices vazios nos botecos,
Vidas vazias diante da televisão,
Sangue escorrendo nas palavras,
Gritos vermelhos nos ouvidos,
A violência crescendo entre a gente
e uma flor morrendo na minha mão...
Pequeno Sentimento
Existiu de tudo até a morte
Foi assim à primeira vista
desgraçado
Declarado sob
A luz de estrelas cadentes
E dos pássaros negros
Riscando o céu nublado.
Só existiu em mim
Esse fogo brando
Agora em cinzas fumegantes
E como um suspiro de uma flor murchando
Trouxe consigo nos braços o limite
E ficaram costurados no vento
O meu desejo, tua repulsa
E a noção de que foi eterno
Aquelas faisquinhas de pequenos sentimentos.
A terra, de novo
Fervura de sonhos esquecidos
Cacos de vidros cheinhos de ternura
A talhar minha língua eternamente
Álbum multicolorido de despedidas e descaminhos
Choros engolidos de agruras ressequidas ao vento
Insistindo em vir à tona a qualquer segundo
O mural paupérrimo de mesquinhez enraizada
Do vil desejo de concatenar o que presumo
Reles gritos no meu texto insosso
Minha terra é meu revide
Minha resposta guardada dos portões que se cerraram ante os meu olhos
Como suprimir essa argila inquebrantável do meu paladar místico e vingativo
Da desforra essencialmente maravilhosa?
Como extinguir essa nódoa de vinho encravada na palidez de minha alma
Como destroçar essa coleira
Amálgama de dor e sabor de ventania
Ou enterrá-la aos poucos com a poeira cósmica do meu ócio
Ou revivê-la intensamente com a agudez meu verso em riste
Saudades, Camaragibe
E com saudade e rancor me despeço
Vou em busca de mim mesmo
Singrando caminhos que não conheço
Ando construindo o novo caminho
Com a saudade que tempera meu peito
Rasga meus olhos como cristais de gelo
E me aperta com os punhos os sonhos estreitos
Deixo por enquanto algumas lembranças
Bons amigos pra horas incautas
Nos bares, lares e ruas distantes
Minha alma segue em lágrimas enxutas
E impele meus átomos a serem perfeitos
Com a esperança na vida, no amor e na luta
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
O Valentão que furou a fila do banho da cacimba da Ilha de Itamaracá
com um sujeito metido a valente
Desses que botam medo na gente
Da gente piscar com o cu
Era um dia de sol no litoral
E estavamos em pleno feriado
Todo mundo sujo e suado
Na Ilha de Itamaracá
Só tinha água mesmo salgada
Na torneira nem vento saía
Eu suado então fedia
E precisava de uma lavada
Fui onde tinha água na cidade
No morro perto do mangue
Tomei uma pra espalhar o sangue
E fui me fazer uma caridade
Segui então para o poço
de onde saía a água cristalina
Era menino e menina
Velha, velho e moço
Passei então pela vila
Subindo a ladeira no escuro
E seguindo então pelo muro
Tomei um susto com a fila
Ia de um quarteirão a outro
O tamanho daquilo tudo
Quase pensei no absurdo
De só tomar banho em agosto
Fiquei em pé então esperando
Com meu balde na mão conversando
Com os amigos também imundos
Mas a fila não estava andando
Foi então que vi o fato
Um sujeito gordo e alto
Sentado na frente da torneira
Tomando banho dessa maneira
Sem se importar com a gente
Pegava seu balde levantava
E de besta a gente ficava
Sem poder seguir pra frente
Foi então que veio a resposta
Dois magrinhos surgiram do nada
E insultaram o grandão que ficava
Sem ligar pra fila cansada
O fortão nem ligou, mas fez um aceno
Como que desprezando os pequenos
Que queriam seu banho tomar
E ali ficou sem nem ligar
Os rapazes começaram a bater
Foi tapa, tabefe e pezada
No sujeito que saiu rebocado
Correndo com um medo danado
Foi tanta porrada no indecente
Que deu dó mas saiu vaiado
Levou dois baques no rego, o coitado
E desapareceu no poente
Saiu todo nojento e melado
Tomando uma lição para sempre
Aprendeu a respeitar uma fila
E foi uma alegria na vila
Sendo aplaudidos, os caceteiros
É desses heróis brasileiros
Que faz que nosso país vibre
E né que eles eram de Camaragibe.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Lista de Pedidos
Toda sorte deste mundo
E dentro de minhas mãos caibam
Todos os sonhos do universo
E que do meu coração
Sempre saiam desejos profundos
Escorrendo, fluentes
Para a alma do meu verso
E nos olhos as paisagens mais belas
A natureza e a beleza dela
A música do paraíso, nos ouvidos,
No coração, o fogo das estrelas
Todo furor que possa ter perdido
Venha eu a receber nesta terra
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Privacidade
escuto um estrondo
São os olhos da noite
vigiando meus segredos
E paro de respirar
com medo e por sigilo
E choro em silêncio
sob as correntes do destino
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Poema
como quem grita
E escrevo com as unhas
um texto insano sobre a lua
E do meu verso escapolem fadas
duendes e bruxas
Animando o meu coração solitário.