sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Melhor Palavra

Como pólvora ou incenso
Aquele texto exato
Aquela melhor palavra
Emergia

Cada letra e seu fonema
O quanto de mim contido
Em seu semblante e cor
O que de dor, o que de riso
O sentimento do mundo
Tudo o que elas traziam

As palavras vinham...
Entrelaçadas com o canto sutil do vento
Como canções ritmadas ou acalantos
Elas nasciam e se recriavam
Nos lábios pueris
Em esperanças sonoras
De um amanhã tranquilo

Mel e azeite
De qual limbo
Fosso, fossa ou
Labirinto
O que sinto, sentiria
Libertando-se
Em verbo espinho
Flor venenosa ou brinquedo

Do silêncio obscuro
À claridão iluminada
Em coragem e desespero
O poema-revolução
Pipoca em estrofes irriquietas
Desaguando em cacos de vidro

Até que uma dor amargurada
Em cotovelo ressentido
Empurra-o para o papiro
Cravando no tempo inconstante
Aquela visão eternamente em abismo

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

De como assassinar um talento

Entre a lua e o sol, seja a cinza.
Com toda sua peculiar frieza mais singela
E sempre esqueça aquele poema
Que ousou nascer e morreu repentinamente.

Engula qualquer tipo de choro,
Finja ser forte, mesmo sabendo não sê-lo.
Crispe sua alma com toda secura,
A tal ponto que qualquer miséria não te afete,
Qualquer lágrima não te comova,
Qualquer sangue banalizado se enxugue
Com o jornal novo do outro dia.

Faça pequenas coisas que detesta.
Depois, se entregue de corpo e alma só e somente a elas.
Devagar sufoque aquele suspiro criativo,
O desejo insustentável de revolução e juventude.


Entregue-se desmedidamente ao porvir,
À preguiça, e ao olor sensual do comodismo.
Entre o ter e o ser escolha sempre a posse.
Acredite piamente na força da matéria
E que o verdadeiro amor seja produto

Em seguida pule de cabeça pra baixo
Na roda viva da rotina mortificadora.
Desfaleça adoravelmente nas paixões cotidianas
Para depois renascer na lata do lixo.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Bendito

I


Pletora de perversidades
Não fosse o bom motivo

Santidade oxidada
Purificando o ar carregado

No matadouro
Ficou meu sangue piedoso

Não há choupa
Que sacrifique o perdão.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Poema sem nome

Quis te fazer uma canção e não pude
Por mais que quisesse a voz fugiu
Partiram-se as cordas de meu alaúde
E aquele verso triste se partiu

E da saudade fiz um choro
E deste um lamento meu
E recitei em silêncio
O poema que não nasceu

Mas se eu me perder pela estrada
Depois de andado tão ansioso
Não chore assim minha amada

Antes mesmo do anoitecer
Um dia desses vou aparecer
Guiado pelos seus olhos chorosos

domingo, 8 de março de 2009

Camaragibe revisitada

Camaragibe terra da mata verde
Em que minha alma ecoa
Entre Curupiras, mãe-d’águas e fulorzinhas
Nas folhas vespertinas de um
Outono esquecido
Sou tua fibra espalhada no vento
Entre os sibilos dos insetos invisíveis
Do universo sonoro e atemporal
Eu te espio nu sobre a telha do satélite
Acaricio e bolino teus morros
Como em mim mesmo afago e flagelo

E no barro em que minha carne
Antes pó de sílica argilosa
Renascida de tantas cinzas
Larvas de vulcões extintos
Calada e meticulosa
Vai pelo mundo afora
Sem pretensões de semente
Nem aridez irrigada na saudade
Apenas desejos exalando pelos poros
Daquela maciez de estar entre seus braços

Vento de que vem de São Lourenço
Cúmplice e límpido em que flutuo
Sou pipa colorida e desgarrada
Motivo de corrida desesperada
De meninos felizes pelos teus cabelos

Lembrando sonhos nos quais flutuei
Torrentes de amores do passado
Passionalmente lançam ciscos nos meus olhos
Pesares que sofri em silêncio

Mas massageando meu rosto
Com tuas mãos de fada
E sopro de bálsamo
Teu canto é suave refúgio
Nas canções dos sanhaçus esverdeados
Eu ressuscito

Sou água entre teus dedos
Açude do Timbi finado
Em que peixes betas azuis incandescentes
Meio aos aguapés, submergia
Toda dor e angústia da vida
Camaragibe, Capibaribe, Pedra da Baleia
Por onde a linha férrea em equilíbrio
Conduzia meus passos em busca de mim mesmo
Translucidamente o meu destino
Na limpidez de tuas águas
Encontrava a paz que cultivava
Em qualquer caos do universo em que me via

No rosto de tua gente
Minha morada e remorso
Meu sorriso de retorno
E teu olhar de consolo

No entanto sou tua palavra solta
Sem paradeiro nem freio
Verbo fácil desbocado e sem limites
Lancinando todo óbice
Que nos antepor deste olhar eterno
Em doce língua de foice
Em lânguidos punhais de dedos
Balas de sílabas perdidas
Nos conflitos tristes de toda nostalgia
Estarei proferindo incansavelmente
Esta paixão que morrerei sentindo

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Soneto da Amizade

Aos meus amigos do peito, obrigado
Sou grato por todo amor e carinho
Sem você no mundo
Estaria mais sozinho

Mesmo estando perto ou distante
Os nossos mútuos caminhos
No meu coração, está lá guardado
Pra você, um lugarzinho

E onde sinto medo e frio
Posso contar contigo
Nos dias tristes e sombrios

Mas nas horas de alegria
Você está lá sorrindo
Retroalimentando a poesia

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A casa de esquina

Apesar de sentir tempestades de remorsos
A exovalhar meu peito carcomido
Eu permito ...

Deixo que derrubem esta casa

Derrubem mesmo esta casa
ela está repleta de assombrações
e visagens de outros mundos

Na velha mercearia, há um avô que faz embrulhos com jornal
e semeia botijas incontáveis pelos cantos

No quintal um tio sorridente e bondoso
lavando desesperadamente seu novo carro,
prelúdio de cópulas, concupiscências e abandonos

Na sala de visitas, um pai honesto e hostil
ensaiando eternamente um novo grito e outro flagelo


No primeiro quarto, uma avó deitada
sempre me contando estórias de amores impossíveis

Na sala de jantar, o belo espectro de minha tia
passionalmente desfalecida com sua taça de cicuta
ainda clamando o nome de seu amado

No quintal dos fundos, um outro tio
perseguindo ratos e seus queijos
pelo vácuo parasita da eternidade

Derrubem esta casa
Tijolo por tijolo
Apesar de lágrimas nos olhos
e coração maltrapilho
Eu o permito

Na copa, uma prima-tia
Completamente enlouquecida
Com sua voz rouca
e olhos arregalados
recitando-me poemas tétricos absurdos

Debaixo da cama, assustado
Um menino morcego
Espiando a rotina se arrastando pelos anos sem fim
Ainda vivo, mas insone
Lendo no escuro
Alfarrábios de tempos de outrora


Não o procurem
Deixem o menino sonhar
E voar com suas asas de crepom
pelo céu do infinito
Antes que seja tarde
E que lhe caia crucialmente
O pesado caibro de toda cruz e de toda culpa
inexistente

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Ano Novo

Renasceremos
Tudo em branco
Na folha nova desta vida

Reinicie seus espelhos
Silencie os ruídos vagos
Desta alma renovada

Novas esperanças
Novas crenças
De paz no mundo
e força nos sonhos

Meu bem não desanimes,
O caminho se refaz
a cada passo

Cabeça erguida
Pés firmes
Braços inquietos

Dance o seu dia
Com todas as forças do teu cosmos
Eu e você estamos sendo

Queira
Mas queira mesmo
Sinceramente
Apaixonadamente
Que tudo o que já é seu
Te encontrará a qualquer momento.