segunda-feira, 24 de agosto de 2009

De como assassinar um talento

Entre a lua e o sol, seja a cinza.
Com toda sua peculiar frieza mais singela
E sempre esqueça aquele poema
Que ousou nascer e morreu repentinamente.

Engula qualquer tipo de choro,
Finja ser forte, mesmo sabendo não sê-lo.
Crispe sua alma com toda secura,
A tal ponto que qualquer miséria não te afete,
Qualquer lágrima não te comova,
Qualquer sangue banalizado se enxugue
Com o jornal novo do outro dia.

Faça pequenas coisas que detesta.
Depois, se entregue de corpo e alma só e somente a elas.
Devagar sufoque aquele suspiro criativo,
O desejo insustentável de revolução e juventude.


Entregue-se desmedidamente ao porvir,
À preguiça, e ao olor sensual do comodismo.
Entre o ter e o ser escolha sempre a posse.
Acredite piamente na força da matéria
E que o verdadeiro amor seja produto

Em seguida pule de cabeça pra baixo
Na roda viva da rotina mortificadora.
Desfaleça adoravelmente nas paixões cotidianas
Para depois renascer na lata do lixo.