quinta-feira, 17 de abril de 2008

Paixão, como se usa?

Não sei usar a paixão
Pedra de fogo riscando o céu
Carrossel de impulsos
E veredas desconhecidas
Às vezes, acelera meu peito
Inflamando com doçura
Cortando com a língua cruenta
Sua frágil textura de cor e dor

Às vezes congela meu ânimo
Picolé de chuchu
Tédio de domingo
E busco abrigo
Chorando ao luar

A paixão é assim
Nasce do nada
Quando vê estou na escada
E rolo até o fim

E me fodo e me flagelo
Atropelo a língua
Corto os pulsos, bebo água sanitária.
Pra alvejar a penumbra da rejeição.

É lasca, a paixão.
Às vezes gosto tanto
Que derretido em prantos
Engasgo-me com o doce sumo
Do fel que escorre da linda boca
Que diz “não” aos olhos secos
Arreganhados de paixão

A menina que virou palavras

E se esvai em frases
De paranóia circulante
De circuito fechado
A verborragia elétrica
Sem nexo
A meia vida
De uma ninfeta esquizofrênica.

E se volatiliza na fala
A donzela antes muda
Um maremoto
De paixão reprimida

Em carne viva
Sua língua arde e cintila
Os ouvidos engatilhados
Dos olhares atraídos
Pela candura febril
A menina que virou palavras
Pronunciando em sintaxe de raios
Sua alma agora irrompia
Em três mil megatons de
Letras em choque.

Réquiem para uma cidade entre o caos e o desejo

Sou um palhaço sem futuro
Tropeçando pelos becos
Dos prostíbulos encharcados
Se descascando sob a chuva
De facas, fel e foices
No submundo dos excluídos
Em meio ao bombardeio da ganância

Contra mim latem os cachorros
Com quem disputo o meu almoço.
Entre mendigos, cheira-colas,
Prostitutas e bandidos,
Eu degusto o que nos sobra dos banquetes dos poderosos.

De onde vem o meu sorriso?
Da mais profunda ironia no enxergar dos absurdos.
Ai meu Recife, quantos medos e desejos de ti eu construí.

Entre a surpresa da altura imponente dos arranha-céus e
O sofrimento absurdo
Dos manguezais soterrados.

Meu sorriso vem da força pura da marginália em movimento.
Entre o desejo lancinante da utopia e a fria realidade.
Do meu sarcasmo de saber que as vitrines
São limites entre dois mundos.
O dos que querem
E o dos que podem.

Ai, ai Recife, picadeiro em chamas,
Ensaio um novo sorriso entre os escombros.

Lar



Seja a luz de um novo sonho

Liberto entre flores

O aroma de paz e brisa

Verdejando pelos olhos

Regado ao som do sol

Azulando no horizonte, amor

Entre os fios de ouro

O nosso ninho de céu